Novas obras no Inhotim

Onze meses depois de um desastre ambiental que culminou numa grande tragédia humana, os moradores de Brumadinho ganham um presente do Instituto Inhotim. Em um momento tão escasso em esperança, o Inhotim convida à valorização da vida de pessoas que perderam familiares, amigos, bens e trabalho. Como resposta a um acontecimento que é fruto de uma irresponsabilidade institucional inacreditável, o Instituto inaugura novas obras, reabre galerias e anuncia a criação de novos espaços para instalações permanentes.

Entre as obras novas, os destaques estão na exposição na galeria Lago, onde estão reunidas obras do argentino David Lamelas e instalações de Yayoi Kusama (imagens abaixo) e Robert Irving (imagens mais abaixo, na segunda galeria) .

Irving, integrante do movimento californiano Light and Space, apresenta Black3 (2018), uma instalação em que transita pelos limites da pintura e da escultura invertendo suas características predominantes. Em Black3 (imagens abaixo), a tridimensionalidade do espaço serve à bidimensionalidade da pintura. O visitante circula entre enormes telas transparentes e percebe a própria presença refletida tenuamente nas duas pinturas dispostas em paredes opostas da sala. É como ver e ver-se ao mesmo tempo em um quadro da famosa série Homenagem ao quadrado (1950-76), de Josef Albers. Apesar de explícita, a homenagem ao grande mestre da cor nos Estados Unidos infelizmente é uma referência restrita a críticos de arte.

Saindo da instalação de Irving, que também inaugura no Inhotim um grande trabalho exposto a céu aberto, entra-se em I’m Here, but Nothing, de 2000 (acima, primeira foto), uma sala de estar onde o visitante se perde na luz. Yayoi Kusama ilumina o espaço com luz negra e distribui adesivos metalizados em todas as superfícies, paredes, mobiliário e objetos, fazendo os corpos dos espectadores desaparecerem no ambiente ou, como ela costuma dizer, se “obliterarem”. O trabalho é mais uma daquelas peças que a artista prega, e o público adora!

Outra obra nova é Yano-A (2019), de Gisela Motta e Leandro Lima, realizada sobre uma foto de Claudia Andujar. A foto-instalação de uma oca em chamas refere outro desastre ambiental e outra tragédia humana que infelizmente estão incorporados à história do Brasil, mas que há pouco assumiram proporções e intensidade tão hediondas que não podem continuar ignorados. Uma obra contundente, mais do que necessária no momento atual.

Além das novidades, a reabertura de De lama lamina (2009), de Matthew Barney, entusiasma visitantes habituais como eu. Fechada para restauro há pelo menos um ano, a galeria dedicada a essa obra reabre no timing perfeito, evocando a potência da natureza e a espiritualidade telúrica no embate contra a lógica da destruição que se impõe sem nenhum pudor.

É um grande momento para visitar o Inhotim. O povo de Brumadinho agradece.

ExposiçãoMagnólia CostaInhotim