Magnólia Costa

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Alfredo Jaar: Lamento das imagens

Alfredo Jaar, Claro-escuro, 2016. Sesc Pompeia, São Paulo, 20021. Foto: Magnólia Costa

A sociedade e suas formas de (des)organização são temas recorrentes na poética de Alfredo Jaar, artista nascido no Chile em 1956, educado na Martinica e graduado em arquitetura em seu país natal durante os anos mais sombrios da ditadura militar. 

Da formação de arquiteto, Jaar retém o exercício reflexivo sobre a dinâmica entre grupos sociais, atentando para os mecanismos que possibilitam a alguns – pouquíssimos – exercer controle sobre os demais. No início de sua trajetória artística, que coincide com o estabelecimento em Nova York em 1982, Jaar deslocou essas reflexões para o campo da imagem, que lhe permite investigá-la como forma de controle social em escala global.

A exposição em cartaz no Sesc Pompeia com curadoria de Moacir dos Anjos tem o título de uma obra de 2002, Lamento das imagens, uma das mais conhecidas do artista, apresentada aqui na primeira versão, que pertence às coleções do MoMA e do Louisianna Museum of Art. O título é extraído de um poema do nigeriano Bem Okri sobre a política colonizadora europeia na África, mas tem um significado muito mais abrangente, na medida em que discute a imagem como conformadora de realidades e, portanto, como instrumento de controle dotado de poder inimaginável.

A posse – ou o direito sobre – a imagem é tema de algumas obras selecionadas para a exposição. A mais marcante é O som do silêncio, de 2006, uma narrativa elaborada em torno da história do fotógrafo sul-africano Kevin Carter, autor de uma foto que o colocou diante de um terrível dilema ético.

Sendo fotógrafo, Jaar muitas vezes ancora o trabalho em fotos de sua autoria. É o caso de Fora de equilíbrio, de 1989, a obra mais antiga da exposição, em que apresenta retratos de garimpeiros em Serra Pelada fotografados durante a corrida do ouro em Carajás, desastre ambiental que acarretou numa calamidade social que marcou a história brasileira do período. Geografia = War, de 1991, e Caminhando sobre as águas, de 1992, também têm fotos do artista como base conceitual e remetem a questões ambientais e sociais, porém no âmbito geopolítico.

Esses trabalhos implicam discutir sobre a responsabilidade do ato de fotografar, pois se a imagem fotográfica é um elemento-chave no controle da sociedade, ela é um recurso efetivo nas práticas de anticontrole. Neste contexto, ganha especial relevância Você não tira uma fotografia. Você faz uma fotografia, de 2013. O trabalho consiste numa citação do fotógrafo estadunidense Ansel Adams, impressa em cartaz, que evoca o ato fotográfico como ato construtivo de profunda intencionalidade.

Texto é matéria prima básica da arte conceitual. Jaar faz amplo uso dele em várias obras de sua vasta e densa produção. Em Lamento das imagens, o texto é elemento recorrente em diversos trabalhos, mas em nenhum  é tão contundente quanto em Claro-escuro, de 2016, elaborado a partir de uma frase dos Cadernos do cárcere escritos por Antonio Gramsci na prisão fascista em que viveu durante dez anos e em que morreu antes de vivenciar os horrores da Segunda Guerra.

“O velho mundo está morrendo. O novo demora a nascer. Nesse claro-escuro, surgem os monstros.” Passaram-se quase noventa anos. Somos provas vivas de que o novo demora a nascer. 

 

 

Sesc Pompeia

28/08 a 05/12

Terça a sexta, 14-19h

Sábados e domingos, 11-18h