Natureza é assunto da arte

Mastaba de Djoser, no complexo de Saqqara, Egito, 2667 - 2648 a. C. Foto: Mstylav Cherbov, 2008

Mastaba de Djoser, no complexo de Saqqara, Egito, 2667 - 2648 a. C. Foto: Mstylav Cherbov, 2008

Foram tantos anos estudando pintura de paisagem que eu já nem lembro o que me levou a isso. Sou uma pessoa intelectualmente curiosa. Vários assuntos despertam meu interesse, e como o terreno da arte é fértil para tudo, muitas vezes me distanciei da pesquisa que desenvolvi nos tempos do doutorado. Mas hoje que meu livro está no prelo, as pessoas (privilegiadas) estão fechadas em casa e a natureza não para de se manifestar contra duzentos anos de ações desastrosas, me parece que chegou o momento de refletir mais profundamente sobre as relações entre arte e natureza. 

            A humanidade povoa a Terra há centenas de milhares de anos. Muito do que sabemos sobre os primeiros grupos sociais nos foi legado pela arte. Por meio de vestígios materiais como artefatos, gravações e desenhos, conhecemos os movimentos migratórios e os elementos que faziam parte da vida desses povos há quase cem mil anos. A vida é breve, a arte é longa, como dizia o velho Sêneca. 

            As primeiras grandes intervenções humanas na natureza são artísticas. Algumas ainda subsistem, como as mastabas egípcias e as linhas de Nazca no Peru, e continuam gerando especulações sobre o sentido da vida e a experiência de mundo de quem as realizou.

“Aranha", geóglifo que compõe as Linhas de Nazca, no deserto de Sechura, sul do Peru, 500 a. C .- 500 d. C. Foto: Diego Delso, 2015

“Aranha", geóglifo que compõe as Linhas de Nazca, no deserto de Sechura, sul do Peru, 500 a. C .- 500 d. C. Foto: Diego Delso, 2015

            A ideia do curso é propor reflexões sobre o papel da arte no terreno da cultura, que entendo no sentido mais literal do termo: como cultivo de valores que herdamos dos nossos passados e vamos legar às gerações futuras. Nas minhas reflexões, a arte e natureza se completam, ao contrário da longa tradição filosófica que as opõe. Minha intenção é falar da arte como extensão da natureza e da natureza como razão de ser da obra de arte. 

            A complementaridade entre arte e natureza está presente tanto em obras realizadas há milhares de anos como nas que foram feitas há poucas décadas, como as intervenções da land art. Ela também se manifesta na invenção dos jardins, na representação de paisagens e nas ações solitárias de artistas que abordaram com poesia a efêmera passagem dos seres humanos na terra.

Nicolas Poussin, Paisagem com Órion cego buscando o sol. Óleo s/ tela, 119,1 x 182,9 cm. The Met, NYC

Nicolas Poussin, Paisagem com Órion cego buscando o sol. Óleo s/ tela, 119,1 x 182,9 cm. The Met, NYC

            Em Arte e natureza, obras produzidas em tempos e lugares diferentes, com propósitos distintos, são o ponto de partida para uma investigação estética e filosófica sobre as relações do ser humano com o todo de que é parte. Informações e inscrições aqui.

 

 

Arte e natureza

Onde: online

Quando: quartas, 17:00 às 18:30

Duração: 8 aulas