Amando o amor

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Anne-Louis Girodet de Roussy-Trioson, Le Sommeil d'Endymion or Effet de lune, 1791. Óleo s/ tela, 198 x 261 cm. Musée du Louvre, Paris. Domínio público

Inserir-se na sociedade é um processo penoso que envolve aceitar as limitações impostas pela realidade e adequar a vontade às possibilidades. É crescente o número de pessoas que rejeitam esse processo e vivem infantilizadas, sendo guiadas por aquilo que Freud chamava de princípio do prazer. Dirigir a vida somente pelo prazer – ou por aquilo que se acredita que proporciona satisfação – é escolher um caminho de frustração, negação, recusa e ódio.

Nenhum sentimento é mais triste nem mais destrutivo do que o ódio. Ele emana de uma escolha pessoal e contamina grupos inteiros, desgastando o indivíduo e esvaziando suas relações até isolá-lo por completo. Não à toa, em ambientes impregnados de ódio nada cresce além do próprio ódio, que se propaga ao limite da autodestruição.

Os momentos históricos em que o ódio prevalece são exatamente os mesmos em que se rejeita a racionalidade construtiva e em que se esfacelam as expressões culturais estabelecidas sobre o sentimento oposto, o amor.

A resistência ao ódio se dá por meio de ações diferentes e inter-relacionadas, como questionar e amar. Como Platão observou em um diálogo intitulado Crátilo, essas ações são essenciais à prática filosófica, que consiste em amar a sabedoria. Em grego, o verbo grego erôtan significa fazer perguntas; o substantivo eros, amor; a expressão ta erotika, a arte de amar. 

Minha vida é e sempre foi permeada pela arte. Comecei a frequentar museus aos cinco anos de idade, tive contato com grandes artistas pelos livros que ganhava de minha mãe, toquei instrumentos musicais, cantei, atuei, continuo dançando, mas escolhi o caminho filosófico da estética para refletir sobre a contribuição da arte para a civilização.

Se a filosofia é o amor ao conhecimento, a arte é o amor ao espírito humano. Como a arte é uma forma de representação, ela ajuda a entender a realidade por meio da sensibilidade e da intuição. Abrir-se para a arte é abrir-se para o mundo e para o outro, é se permitir amar. 

Quanto mais intolerante o meio, mais amor é preciso para sobreviver nele. O amor que se manifesta pela arte é imprescindível para enfrentar pequenas frustrações cotidianas. O que seria das pessoas sem o cinema, a música, a literatura? Percebemos claramente a importância da arte durante os anos mais duros da pandemia. A arte educa os sentidos e refina a sensibilidade, um alimento para a mente e o espírito. Feliz quem se deixa encatar por ela.

Veja também:

Curso Arte de amar [inédito]

Reflexões de filósofos sobre o amor apoiam a análise de obras produzidas em vários momentos da história, que remetem à alegria de amar, não somente um ser, mas o próprio amor. 

De 08/03 a 07/06/23, às quartas-feiras, das 18h às 19h30. saiba mais