Voltar à natureza é uma necessidade premente

Stonehenge, 3000 - 1500 a.C, Salisbury Plain, Reino Unido. Foto: cortesia de Mila Buenavida/ Unsplash

Stonehenge, 3000 - 1500 a.C, Salisbury Plain, Reino Unido. Foto: cortesia de Mila Buenavida/ Unsplash

Meu interesse pela natureza foi despertado pela arte. Há quase trinta anos, quando comecei a pesquisar a pintura de Nicolas Poussin para minha tese de doutorado, me dediquei entender sua maneira de representar a natureza. Na paisagem, Poussin estabeleceu convenções para esse gênero de pintura que deveria apresentar visões idealizadas da natureza perfeita. 

Estudar Poussin despertou meu interesse por artistas que elegeram a natureza como matéria prima de trabalho. Alguns não são pessoas, mas civilizações que deixaram no espaço natural um legado arquitetônico que ainda é objeto de especulação. Há também os artistas solitários, que fazem ações poéticas na natureza para evocar a fragilidade humana face à potência dos fenômenos naturais.  

Entre antigas civilizações e românticos do século XXI, há um vasto terreno em que a arte adentra a natureza, seja para sujeitá-la às suas visões, como no paisagismo, seja para propor soluções de ocupação de solo, como no urbanismo, ou ainda para abordar assuntos prementes no mundo atual, como a alimentação e a preservação da biosfera. Diversas proposições artísticas contemporâneas incidem diretamente na ação dos seres humanos sobre a natureza, inspirando-se em conceitos da permacultura ou da ecologia política.

Minhas reflexões sobre esses assuntos me levaram a elaborar o programa de Arte e natureza, o primeiro curso que ofereço sob demanda. Como em todos os cursos que ministro, a participação não requer nenhum conhecimento prévio.  

Quem colocou o ambientalismo em sua lista de interesses vai encontrar neste curso uma abordagem ancorada em conceitos de natureza propostos por filósofos antigos como Aristóteles, modernos como Espinosa e contemporâneos como André Gorz, que atuou na interseção de filosofia e economia, ressaltando a importância da diminuição do consumo e da adoção de uma nova forma de organização social.  

É essa discussão que orienta a minha análise dos ecomuseus e até do papel da arte nas sociedades futuras, se é que haverá futuro para alguma sociedade. André Gorz afirma com clareza que o capital deve operar no interesse das pessoas, não em interesse próprio. Economia se pensa a partir da casa, o planeta. O pensamento desalienado é essencial para conter o colapso que se anuncia há décadas e que parece estar sendo desejado, em vez de evitado. É o momento de a arte desfazer uma velha confusão e assumir um papel ativo na necessária mudança de mentalidade.