Manifesto pela Igualdade na Arte
O exercício da democracia requer a revisão constante de valores. Para ser efetivamente democrática, uma sociedade não pode permanecer indiferente à história, sobretudo aos erros cometidos no passado. Repetir erros é fácil; corrigi-los é difícil; conviver com as consequências é terrível. Os erros são evitados quando as causas são eliminadas. Devemos nos concentrar nas causas. A arte e a educação são nossas aliadas.
A desigualdade de gênero é uma ameaça à democracia. A causa da desigualdade é a prevalência dos valores patriarcais. Esses valores se consolidaram de maneira estrutural, causando danos incontáveis à humanidade. Os danos são amplamente conhecidos. Os mais evidentes são a discriminação, o assédio e a agressão, mas a variedade é enorme. Independentemente da forma ou da intensidade com a qual a desigualdade se manifesta, ela compromete os esforços de construir uma sociedade justa.
A arte, em particular a arte ocidental, tem responsabilidade sobre essas questões, uma vez que seu valor é medido pela capacidade de estabelecer e transmitir valores.
Como outras formas de expressão cultural, a arte ocidental orientou-se por valores patriarcais, tendo sido feita por homens, financiada por homens e destinada ao deleite dos homens. Mulheres artistas foram deixadas de fora dos livros, das coleções e das salas de museus, instituições criadas por homens para preservar valores patriarcais. A história da arte, assim como a história social, vem sendo construída sem proceder a uma revisão profunda dos valores que a ancoram. Ela própria vem colocando obstáculos à democracia.
Chegou o momento de os museus revisarem seus valores. Museus preservam o passado para transmiti-lo ao futuro. Museus constroem a história. Sua responsabilidade é enorme. Eles não podem mais ignorar um direito humano básico: a igualdade de gênero.
É hora de museus e instituições artísticas – escolas, galerias, centros culturais – assumirem o compromisso de promover a igualdade de gênero, o que implica combater todas as formas de discriminação e de violência contra a mulher. Assumir esse compromisso é dar voz à sociedade, para que expresse abertamente suas necessidades e seus desejos. Escolas, centros de cultura, galerias comerciais e museus existem pelo desejo da sociedade; foram criados para servi-la.
Esse serviço se realiza quando se lançam reflexões sobre a desigualdade de gênero, que oprime mais da metade da população mundial há milhares de anos. Se realiza também quando se aplicam políticas de equidade no âmbito da gestão institucional. Trabalho igual, salário igual.
A consciência é um ato da vontade. Ela molda a realidade segundo valores. É preciso suplantar os valores patriarcais de maneira definitiva. Que a igualdade de gênero prevaleça. Que o desejo de prosperar a fortaleça. A igualdade traz prosperidade para todas as pessoas, em todos os segmentos sociais. Que a consciência se dirija nessa direção.
Artistas, professores, críticos, trabalhadores, gestores de instituições artísticas, nossa responsabilidade é grande. Somos formadores da consciência coletiva. Que a igualdade de gênero seja nossa meta.