A arte de ensinar: Magnólia Costa leva saber artístico por onde vai

Magnólia Costa por Nicole Nigro

Magnólia Costa por Nicole Nigro

A professora de arte é uma das mais conceituadas do Brasil. Na internet, ela leciona cursos dos mais diversos temas de relevância

“Levar o conhecimento de arte para o maior número de pessoas possível.” Se Magnólia Costa precisasse escolher apenas uma missão na vida, possivelmente essa máxima seria atribuída a ela. Uma das professoras mais conhecidas e conceituadas do Brasil – e nome de peso no ramo artístico –, a mentora alimenta o legado de tornar o tema mais acessível e interessante. À coluna Cláudia Meireles, do portal Metrópoles, ela conta como tornou isso possível.

Nascida em São Paulo, Magnólia Costa percorreu uma interessante jornada até chegar a sua atual realidade. Realizada profissionalmente, obteve da Universidade de São Paulo os títulos de doutora, mestre, bacharel e licenciada em filosofia. “Eu fui parar na filosofia por um motivo: descobri que, nesse curso, daria para estudar arte sem ser artista”, brinca a paulistana. Ela explica que, durante a adolescência, considerava suas pinturas e desenhos “péssimos”, o que a fez pensar que seu dom seria estudar as obras, e não executá-las. Segundo a profissional, pintura e artes visuais são assuntos presentes na Faculdade de Filosofia.

Magnólia sabia, desde pequena, que o universo da manifestação artística era o seu caminho. “Sempre fui inclinada a me expressar por desenhos e cores. Todas as minhas brincadeiras de criança eram pautadas por isso”, confessa. Contudo, algo a guiava rumo ao magistério. Aos 16 anos, ela entrou para um estágio numa escola pública de São Paulo para lecionar filosofia: “Eu não sabia muito bem se queria ser professora, mas eu fiz”, recorda.

Diante de um cenário distinto do seu, a jovem compreendeu a importância de trazer cultura para as pessoas. “O contato com essa realidade social enfatizou a minha decisão de levar conhecimento para muitos”, refletiu a filósofa.

Essa ocupação mostrou à professora que ela estava certa em se dedicar ao ensino. A felicidade foi imediata.

 

Trajetória

Após a graduação, Magnólia trabalhou como pesquisadora por 10 anos. Um dos momentos mais marcantes foi a entrada para o mundo dos museus, ambiente em que, em sua visão, “tem a necessidade de ação educativa e aquilo que eu tenho para oferecer é interessante para eles”, diz. Sua carreira na arte começou como professora no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp).

Para a instrutora, a experiência no local foi bastante interessante. “O aluno está lá porque gosta, e não por obrigação. É algo espontâneo”, defende Magnólia Costa.

Não obstante, ela observa que o Brasil ainda tem muito a progredir para chegar aos níveis de acervo e seriedade encontrados em outros países, como os europeus ou americanos. “Os museus fazem parte das atividades comuns desses cidadãos. Mas não é só uma tradição cultural, esses países têm a cultura como um ramo econômico, e isso é muito recente ainda no Brasil’’, opina.

Para ilustrar essa concepção, Magnólia cita o Museu do Louvre, em Paris, que recebe cerca de 10 milhões de visitas por ano, o que contribui para a conquista de um orçamento altíssimo.

Paralelamente à atividade docente, a filósofa coordenou os trabalhos de tradução da monumental coletânea A pintura, organizada por Jacqueline Lichtenstein e publicada pela Editora 34. Ela também contribuiu para os estudos do século 18 com traduções de obras de Denis Diderot e Marquês de Sade, por exemplo. Magnólia tem artigos publicados sobre a estética e o pensamento de Diderot. É, ainda, autora da obra Nicolas Poussin: ideia da paisagem, publicada pela Edusp.

A paulistana especializou-se em arte francesa do século 18 e em pintura de paisagem franco-italiana do século 17. Também atuou por 10 anos como professora titular da disciplina Crítica de Arte na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).

Após o período no Masp, a especialista entrou para o Museu de Arte Moderna (MAM), onde chefiou o Setor de Pesquisa e Publicações e ocupou o cargo de Relações Institucionais. Por lá, segue ministrando cursos de história da arte.

 

Aulas e cursos

O ensino da profissional vai além das instituições e reúne “discípulos” em disputadas e seletas aulas particulares. Em seus cursos, introduz a crítica no campo da história da arte, analisando a obra à luz de conceitos filosóficos e do contexto sociocultural no qual foi produzida. A mentora instrui a abrir um campo de reflexão mais profundo para uma nova compreensão da história.

Outra particularidade é a inserção da dimensão literária aos cursos autorais. Magnólia acredita que o texto e a imagem andam juntos. “Sem a literatura, eu não sou ninguém”, fala a filósofa, autora da publicação Nicolas Poussin: ideia da paisagem. A leitura, é claro, é um hábito rotineiro. Ela nunca deixa de ter um livro na cabeceira.

 

Mudanças da pandemia

Ao longo do tempo, Magnólia viu a necessidade de migrar seu trabalho para o meio online. O interessante disso tudo é que ela teve o insight antes de a pandemia de coronavírus começar. “Sou uma pessoa de sorte, pois tenho uma sensibilidade ao momento. Na metade de 2019, eu já sabia que queria dar cursos on-line, mas não imaginava que isso seria tão rápido”, revela.

Inicialmente, sua ideia era dar aulas mais curtas e com linguagem acessível para que as pessoas pudessem se aprofundar em obras de arte específicas, que não fossem apenas visuais, mas também literárias, de cinema, música, entre outros. Esse projeto, entretanto, tem previsão para acontecer no próximo ano.

Devido ao isolamento social, Magnólia passou a lecionar na esfera digital, o que a surpreendeu, pois a ideia foi muito bem aceita pelos alunos. “As pessoas gostaram. Houve uma adesão imediata”, comemora.

 

Expansão

Além dos cursos particulares, Magnólia Costa investe em suas redes sociais para promover arte. Para ela, a tecnologia é uma grande aliada, visto que facilitou o alcance de alunos do mundo todo. Uma das plataformas de destaque é seu canal no YouTube, Arte com Mag, espaço dedicado a conteúdos variados, além de publicações de suas lives editadas.

A peça-chave de Magnólia é o seu site oficial. Lá, ela disponibiliza os cursos on-line (com temas que abordam imagem e identidade, arte na França, arte no Ocidente, mulheres na arte, entre outros), artigos e informações sobre sua carreira, por exemplo.

Outro segmento explorado pela educadora são as viagens. “Levo grupos pequenos para visitarem algum evento importante, por exemplo”, declara Magnólia, que também organiza roteiros com atrações culturais nos destinos.

 

Como tornar a arte acessível?

O entendimento de que a arte precisa estar cada vez mais acessível é válido para Magnólia Costa. E isso ficou claro para ela no tempo em que atuava no MAM. “Meu trabalho consistia em encontrar meios para atrair o público e fazer com que as pessoas percebessem que o museu é para todo mundo e que arte pode falar para todo mundo”, acredita.

 

No fundo, nós esperamos que a arte fale a nossa língua, quando somos nós que temos que parar e olhar para ela e tentar descobrir o que ela está dizendo. Se você não abre esse canal da sensibilidade, nada acontece.

Magnólia Costa, professora de arte

 

Para a profissional, a arte está muito mais perto do que imaginamos. “O senso comum acha que tem o jeito certo de ver a arte. Mas quanto mais você a vê e mais contato você tem com ela, mais você entende”, sugere. Prova disso é a diferença que a professora nota nos alunos que saem dos museus após as suas aulas. “Eles saem muito mais abertos de quando entraram”, garante.

Segundo a expert, cada vez que observamos uma obra artística, somos capazes de ver algo novo. “Nós envelhecemos, temos outras experiências, mudamos de perspectivas e de sensibilidade, adquirimos mais conhecimento… Por isso, toda vez que olhamos para uma obra, ela diz algo diferente”, entrega.

 

Afinal, o que é arte?

Talvez essa seja a pergunta mais difícil. Inspirada no mitologista e escritor Joseph John Campbell, Magnólia responde de forma impassível: “Eu diria que arte, pensando no hoje, é a representação da experiência humana”, filosofa. A professora assume que já refletiu sobre o tema e chegou a diferentes significados, mas que eles mudam ao longo da vida e de acordo com o contexto.

Para a profissional, a arte está muito mais perto do que imaginamos. “O senso comum acha que tem o jeito certo de ver a arte. Mas quanto mais você a vê e mais contato você tem com ela, mais você entende”, sugere. Prova disso é a diferença que a professora nota nos alunos que saem dos museus após as suas aulas. “Eles saem muito mais abertos de quando entraram”, garante.