Educando em museus

Sala expositiva do Museu Histórico e Pedagógico Índia Vanuíre, Tupã, SP. Foto: Bruno Marquei de Lima

Hélio Oiticica dizia que museu é mundo. E é mesmo, um mundo de infinitas possibilidades. Existe museu de arte, museu dedicado a grupos sociais, a eventos históricos, a descobertas científicas, à língua que falamos. Museu é um campo de trabalho diverso por definição. Profissionais de todo tipo trabalhando em museus. Muitos deles desempenham a mesma atividade, acolher o público. Nada é mais importante em um museu.

Acolher é proporcionar às pessoas um contato especial com o que é exibido nas instituições culturais. Há mais ou menos vinte anos, os museus investem esforços para que esse contato não seja único. Para criar laços com a comunidade, é preciso que as pessoas sintam que os museus lhe pertencem e têm muito a oferecer em termos de visão de mundo e modos de pensar. Esse sentimento nasce do relacionamento entre o museu e a comunidade, um relacionamento construído por educadores e mediadores culturais.

Se museu é mundo, nele também existe desigualdade, e a principal é o acesso. Além dos obstáculos físicos, existem os educacionais, intelectuais, sensoriais, sociais. Uma das missões do setor educativo de um museu é mitigar a desigualdade. Isso explica o seu crescimento no cenário das instituições culturais brasileiras e mostra a importância de aumentar os investimentos no setor.

Apesar de essenciais ao relacionamento com o público, educadores de museus aprendem o ofício na prática. Não existem cursos profissionalizantes, nem de especialização. Na maioria das instituições, mediadores são pessoas recém-formadas, interessadas em educação e na comunicação com o público. Quando incorporados ao quadro funcional, elas aprendem as regras da casa e começam a atender os visitantes de maneira intuitiva, muitas vezes sem atentar para a diversidade e necessidade de cada grupo.

Quando me envolvi de maneira mais profunda com o MAM São Paulo, acompanhei o desenvolvimento do setor educativo, onde foram criados vários programas para pessoas com deficiência, além de uma política inclusiva de atendimento. Vi o modelo pioneiro do Educativo MAM ser replicado em incontáveis instituições no Brasil e no exterior, sem os educadores terem recebido uma formação específica.

É lamentável que esses profissionais tão importantes não tenham oportunidades de se formar adequadamente nem de se aprimorar. Nas vezes em que sugeri ao MAM criar um curso de formação de educadores, fui voto vencido. Cada hora era uma desculpa uma diferente. Além da clássica “não temos dinheiro”, eu costumava ouvir “não tem espaço” ou ainda “não dá para mexer na escala de atendimento”.

Fundei minha plataforma de ensino a distância em 2019, com o intuito de diversificar o público e levar meus conteúdos a pessoas que não podiam frequentar auditórios e salas de museus. Quanto mais difícil o processo, mais a gente deve comemorar as vitórias. Estou em festa. A plataforma teve um projeto contemplado pelo Proac e finalmente vai oferecer um curso dedicado à formação de educadores para museus e instituições culturais. É um sonho realizado.

Educando em museus é um curso teórico-prático em dois módulos, um dedicado aos modelos de análise de obras e artefatos históricos, outro ao mapeamento dos visitantes de instituições culturais e dos tipos de mediação. A ideia é que cada aluno-educador possa elaborar sua própria metodologia de mediação.

O curso é o coração, mas o projeto tem outros órgãos vitais. Todos os conteúdos transmitidos são plenamente acessíveis e os conteúdos produzidos pelos alunos vão virar um e-book. Além disso, o projeto envolve eventos presenciais em instituições incríveis como o Museu da Imigração e o Museu Índia Vanuíre, em Tupã. Vamos criar uma comunidade com 90 pessoas que desejam atuar ou já atuam como mediadoras culturais. O impacto é considerável: 75% dos 275 museus paulistas têm setores educativos que recebem mais de 3 milhões de pessoas por ano. Esse número pode aumentar muito, se a experiência cultural dos visitantes os fizer voltar.

O melhor de tudo é que as pessoas que preencherem as 90 vagas disponíveis vão fazer o curso sem pagar nada e ainda receber certificado. O investimento de dinheiro público na formação dos cidadãos reverte em benefício para a sociedade como um todo. Bora crescer pela cultura!

O curso Educando em museus é patrocinado pelo Proac, Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.