Matéria e sensibilidade: Chardin segundo Diderot

Jean-Siméon Chardin, Le bocal d’olives, 1760. Óleo s/ tela, 71 x 98 cm. Musée du Louvre, Paris

Jean-Siméon Chardin, Le bocal d’olives, 1760. Óleo s/ tela, 71 x 98 cm. Musée du Louvre, Paris

Há cerca de um ano recebi um convite para escrever um artigo para um livro sobre a sensibilidade na filosofia de Denis Diderot. Foi um convite totalmente inesperado, já que eu me distanciei dos estudos do século 18 e desse grande pensador há muito tempo. 

Descobri Diderot no início da graduação. Foi amor à primeira vista. Ler seus livros era adentrar em um mundo de interesses múltiplos pela óptica materialista, descobrir as matrizes da literatura moderna, topar com opiniões heterodoxas sobre o ofício do ator e visitar salões com paredes cobertas de pintura do teto ao chão. Tudo me agradava. Ainda me identifico plenamente com esses textos perspicazes, irônicos e, principalmente, errantes.

Durante cinco anos estudei os textos que ele escreveu sobre arte. Essa pesquisa resultou na minha dissertação de mestrado, Diderot: Mecanismos da invenção crítica, em que analiso as críticas que ele escreveu sobre as obras expostas nos Salões da Academia no século 18. Além disso, publiquei traduções comentadas de várias obras de Diderot, entre elas o romance Jacques, o Fatalista, e seu amo. Mas desde que os textos de Diderot sobre arte me levaram a estudar Poussin, nunca mais havia lido sequer uma linha de seus livros.

O convite para escrever sobre Diderot me fez voltar à sua obra. Como me fez bem reencontrar aquele estilo imagético e emocionante. Só então eu percebi a falta que me fazia a leitura desse pensador cheio de paradoxos e verdades inapreensíveis. 

No meu artigo para o livro Sensibilidade e matéria no pensamento de Denis Diderot, que acaba de ser lançado pela Universidade de Coimbra, decidi explorar as críticas que ele escreveu sobre as naturezas mortas de Chardin, um dos pintores oitocentistas que eu mais aprecio. Foi o empurrão que faltava para eu analisar com a devida profundidade a percepção de Diderot sobre Chardin, o que não pude fazer trinta nos atrás, quando me concentrava em fazer uma leitura retórica dos Salões de Diderot para entender a crítica de arte como gênero literário.

O livro Sensibilidade e matéria no pensamento de Denis Diderot foi editado por Joaquim Braga e Fabiana Tamizari, do Instituto de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Acesse aqui a versão eletrônica do livro. Em breve, ele estará à venda pela Amazon europeia para impressão sob demanda.

Boa leitura!